Friday, April 15, 2011

Reencontrando o Juju

Estava hoje de manhã conversando com os passarinhos raivosos do meu iPhone, na enorme sala de espera da Receita Federal, quando senta ao meu lado o ex-vereador Juarez Silveira. Encontrar o Juju em Florianópolis não é difícil, mas logo na Receita? Bom, enrolado como ele esteve (está?) com a Polícia Federal e outros organismos, até que não parece coisa muito estranha que ele tenha negócios a tratar com o Leão.

Como nos conhecemos desde o tempo em que a ponte Hercílio Luz era a única ligação entre o Estreito e a Ilha, o Gaguinho era o melhor mecânico do estado e tomar laranjinha Max Wilhelm no bar Margarete era programa obrigatório, aproveitamos a espera pra conversar. Talvez não tenha sido possível colocar todos os assuntos em dia, porque o Juarez conhece “todo mundo”, sabe muitas histórias de bastidores e, como já deu pra perceber nas gravações feitas pela PF e publicadas (inclusive por este blog), na época da Moeda Verde, fala bastante. Mas foi uma boa visão geral do que tem acontecido com ele.

Depois de toda a fritura que se seguiu à prisão (em companhia ilustre, é bom que se diga) na Operação Moeda Verde, o Juarez está se preparando para voltar às campanhas eleitorais, candidato a vereador em 2012. Já tem até número: 11-456. Pelo PP, portanto. Diz que, por onde anda, recebe manifestações espontâneas de apoio. De gente simples aos figurões, o pessoal parece querer colocar Juju de volta na Câmara. Pelo menos é o que ele conta, com a riqueza de detalhes que lhe é peculiar.

Naturalmente, diz que foi injustiçado na Moeda Verde. E que não é corrupto, que nunca envolveu dinheiro público, nunca colocou empreiteiras na prefeitura. Teria sido envolvido por causa de suas duas características principais: querer ajudar os outros e falar muito.

Como foi uma conversa relativamente curta (afinal, a Receita deu um certo chá de cadeira, mas não nos fez esperar muito tempo), não cheguei a investigar mais a fundo as razões dessa injustiça. Nem tive como ir atrás de algumas bolas que ficaram quicando, quando ele mencionou os esquemas que estavam montados, quem participava do que e o verdadeiro gatilho que teria desencadeado a operação Moeda Verde.

Depois que saí de lá fiquei pensando que o Juarez e o Içuriti (ex-presidente da Codesc e tesoureiro do PMDB) são dois legítimos manezinhos, que tiveram uma trajetória previsível. Juntei os dois na reflexão porque sempre foram muito amigos. O Juarez chegou a ser preso com a camionete cheia de vinho e outras bebidas que tinha trazido do Uruguai para o amigo Içuriti. E assim como hoje o Juarez estava com uma camisa polo de grife, quando eu encontrava (no tempo em que ainda nos encontrávamos) o Içuriti, ele prestava atenção na marca da camisa que eu estava usando e, se aprovava, dava o veredito: “hum… essa aí é boa”.

Mas o florianopolitano não aceita muito bem as demonstrações externas de sucesso ou riqueza de seus conterrâneos. Coisa de manezinho. Quando os dois, de famílias conhecidas, mas simples, entraram na política e começaram a “se dar bem”, também começaram a fazer com que parte da cidade começasse a olhá-los de revesguelho.

Frequentavam ambientes chiques, eram convidados para passeios, viagens, festas, vestiam-se com roupas de grife, apareciam nas colunas sociais, gostavam de ostentar. Não foi surpresa, portanto, que tenham sofrido (talvez mais o Juarez que o Içuriti), uma sequencia de situações constrangedoras e os rolos em que estiveram envolvidos tenham tido tanta repercussão. Não se trata de discutir aqui se tiveram ou não culpa no cartório e se esses sinais externos de riqueza tinham origem lícita ou não (imagino que isso caiba à Receita investigar). Mas de constatar que, uma vez aberta a temporada de caça, por algum deslize, quem podia puxar o tapete, puxou. Quem antes dava tapinhas nas costas e usava o prestígio da dupla, depois virou a cara. Quando não mudava de calçada, ao encontrar na rua.

Mas a política é como uma nuvem. E, como já dizia Nixon, “a memória do povo é fraca e seu coração, complacente”. Não existe isso de algum político “morrer” porque sofreu processo, foi acusado de alguma coisa ou foi preso. E imagino que o eleitor saiba que, entre os candidatos a qualquer coisa, aquele que anda mais devagar, “avoa”.

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