Tuesday, November 27, 2007

A hora dos corruptores na CPI da Moeda Verde

Blog do Vieirão ; 26/11/2007

[À esquerda, vereador Jair Miotto, que pediu afastamento definitivo da CPI; o presidente Jaime Tonello; no centro, Hélio Chevarria e seu advogado, impecáveis na roupa e nas palavras, ladeados por dois servidores da Casa; e, à direita, de costas, o relator da CPI, Deglaber Goulart]
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Se há corruptos, há corruptores.

Se nas instituições - Executivo, Legislativo e Judiciário - têm corruptos, na sociedade civil estão seus correspondentes. É o lógico, o real, o inquestionável.

Ontem, o outro lado da moeda veio depor na CPI.

Foi a sessão mais íntima e constrangedora. Quem assistiu [ou verá sua repetição na TV Câmara], não vai esquecer jamais.

O vereador Jair Miotto desabafou com funcionários do Legislativo:

- Quem viu não pode mais ter dúvida de como funcionam as coisas em Florianópolis.
__________

Hélio Chevarria, diretor do grupo Habitasul, de Porto Alegre, respondeu todas as perguntas dos vereadores.

Sobre um terreno em Jurerê Internacional, supostamente de interesse de Dário Berger, disse o seguinte:

- O prefeito tinha problemas com a casa dos Ingleses. Uma das alternativas seria construir uma casa em Jurerê. Estava procurando um terreno.
_________

As conversas de Chevarria com Juarez Silveira e Péricles Druck, presidente do Grupo Habitasul, gravadas pela PF, são assim:

Em 06/09/2006, às 21:19:

JUAREZ: - … tô aqui em Ingleses com o Prefeito, eu até te liguei mais cedo, mas tu não atendesse, do telefone que eu te liguei. O Dário, amanhã, eu marquei com o Paulo Cordeiro, pra ir comer uma paletinha lá na casa do Paulo Cordeiro, entendeu, na hora que ele sair desse compromisso, ele e a Rose, e depois eu queria mostrar o loteamento, entendesse, os mapas, os terrenos, e tal! Entendeu? Aí depois a gente conversa.
HÉLIO: - Tá, amanhã uma hora?

Às 21:46 do mesmo dia:

HÉLIO: - Juarez, o Péricles Druck disse pra tu passar aqui, ó! Ele tá te esperando! Na casa dele! Vem aqui.
JUAREZ: - Deixa eu falar com o Dário aqui, então, tá?
HÉLIO: - Vem, passa aqui! Coisinha rápida! Só pra dar uma combinada aqui! Ligeirinho! Tá? Vem aqui, vem aqui! Tô te esperando!

No dia seguinte, 07/09/2006, às 16:10:

HÉLIO: - Não, é o seguinte: o Juarez tá ali com o Prefeito, na… casa do Paulo, tá?
PÉRICLES: - Eles tão ali com o Cordeiro, ele já me ligou antes e tal!
HÉLIO: - Isso, então ele disse que daqui meia-hora eles vão ta… eles queriam ir aí na… na sua casa pra… pra ir ali ver o Amoraeville daí!
PÉRICLES: - Então? E tu vem pra cá?
HÉLIO: - É, então eu vou pra aí! Tá?
PÉRICLES: - Então eu tô te esperando aqui!
HÉLIO: - Então daqui meia hora eu tô aí e eles vão também, tá?!

Às 16:12:

HÉLIO: - Ô Juarez, então tá! Daqui meia-hora na casa do Péricles! Tá bom?
JUAREZ: - Tá bom. Falou, fechou!
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Perguntado se Dário Berger possuía terreno em Jurerê, Chevarria respondeu:

- Dário não adquiriu terreno.

Se a Habitasul tinha ajudado financeiramente a campanha de Dário:

- Não.
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Afinal, o que tem a ver terrenos em Jurerê e dinheiro para campanhas políticas?

É que a Habitasul é pródiga em doar terrenos e dinheiro em troca de favores de membros das instituições do Estado.

Rubens Bazzo e Odilon Furtado, da SUSP, e José da Rocha, do Ipuf, foram indiciados por causa de terrenos em Jurerê. No caso do Bazzo e do Rocha, receberam terrenos como contraprestação decorrente de contrato de consultoria.

Os servidores elaboravam o projeto de manhã e à tarde aprovavam-no na Susp e no Ipuf.

Sobre a contratação ilegal de funcionários públicos, Chevarria justificou:

- O Bazzo e o Rocha são dois profissionais que conhecem tudo de Florianópolis.

O fato de serem responsáveis pela aprovação de projetos de interesse da Habitasul é só uma coincidência!
_______

Sobre dinheiro para campanhas:

- Ajudamos quem procura. Todos.

O Tribunal Regional Eleitoral registra doações da Habitasul para dois políticos manezinhos: Juarez Silveira e Sérgio Grando.

- Nós contribuímos porque eles nos ajudam.
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Sobre o Juarez Silveira, Chevarria disse com sinceridade, aliás característica de seu depoimento:

- Sabe como é o jeito do Juarez, sempre ajudando todo mundo. Depois ele pedia ajuda pra nós.

Thursday, November 08, 2007

Como era Verde o meu relógio....

Coluna Cesar Valente ; 8/11/2007

Sei que alguns de vocês não agüentam mais ouvir falar na tal Operação Moeda Verde, mas tem outros que vivem pedindo pra ler mais alguma coisinha do relatório. Principalmente aqueles trechos onde as autoridades conversam e trocam confidências.

Vou atender hoje ao pedido dos curiosos e depois deixarei algum tempo os arquivos fechados, para tratar de outros assuntos que também requerem a nossa atenção e são tão escabrosos quanto.

O GRANDE AMIGO

Um dos destaques do relatório da Moeda Verde, sem dúvida, é a emocionada amizade que une o empresário Paulo Cézar Maciel e o ex-vereador Juarez Silveira.

O Paulo Cézar, pra quem não conhece, é o “sócio local do empreendimento atualmente denominado SHOPPING IGUATEMI e proprietário de diversas outras empresas (a exemplo da Santa Fé Veículos, Florence Veículos, Construtora Santa Fé e Engec)”.

O shopping está na mira da Polícia Federal pelo menos desde 11 de novembro de 2004, quando foi instaurado o “Inquérito Policial n.º0919/2004 (autuado na Subseção Judiciária de Florianópolis sob o n.º 2004.72.00.018234-5)”.

O motivo, já naquela época, era “a possível ocorrência de crime imputado a servidores da Secretaria Municipal de Urbanismo e Serviços Público de Florianópolis, do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis/SC, da Fundação do Meio Ambiente-FATMA, demais órgão, servidores e pessoas físicas/jurídicas envolvidas, tendo em vista a ocorrência de informações falsas ou enganosas, omissão de verdade, sonegação de informações e dados técnicos-científicos em procedimento de autorização ou licenciamento ambiental, concessão de licenças e autorizações em desacordo com as normas ambientais para atividades, obras ou serviços, cuja realização depende de ato autorizativo do poder público”.

Ou seja, desde 2004 já se suspeitava de procedimentos semelhantes àqueles descritos depois, com novos detalhes, na Operação Moeda Verde.

“PEGAS MEU RELÓGIO?”

Nada comprova melhor uma boa relação de amizade do que esses pequenos favores que só a amigos se pode pedir. Por exemplo, pegar o relógio que está no conserto. Os maledicentes arregalarão os olhos quando virem que o relógio era um Bvlgari (não existe relógio popular desta marca) e que o conserto (um simples polimento) custaria a bagatela de R$ 900,00.

Abaixo, os principais trechos:
“Às 14:52, Lina da Bulgari liga para Juarez, dizendo que seu relógio chegou. Juarez vai mandar Paulo Cezar ir buscar o relógio. Disse que já mandou um outro Bulgari mês passado pra ela. É a loja da Bulgari na Rua Hadock Lobo, 1626, em São Paulo. Juarez diz que vai ligar para ver se Paulo Cezar pode buscar. O preço do serviço de polimento saiu em R$ 900,00. Às 15:21, Paulo Cezar liga para Juarez Silveira, possivelmente retornando ligação deste, e este pergunta se Paulo Cezar está em São Paulo. Paulo Cezar responde que está e Juarez, então, pede um favor, dizendo para buscar seu relógio na Bulgari.

“Eu tenho um relógio lá para pegar, eu ia dar o telefone da moça e tu ias pagar novecentos reais e trazer a nota do meu relógio, que eu deixei lá, entendesse?”. (...)

Juarez dá o endereço e diz que é a relojoaria Bulgari, aquela loja bonita, de relógio e completa: “Eu sou chique. É, eu sou chique, querido!” Juarez pergunta “o que comprasse pra nós, aí, algum conversível?”. Paulo Cezar responde que não e que está tudo a mesma coisa no salão. Juarez diz, então: “eu vou vender o meu pra ti depois”, possivelmente referindo-se ao seu Mercedes conversível.

Às 15:25, Juarez liga novamente para Bulgari, avisando que Paulo Cezar Maciel da Silva passará para pegar o relógio e o descreve como sendo “o futuro dono do Shopping Iguatemi aqui de Florianópolis! Tá?” Diz que ele não tem “aquele documento de vocês” para pegar o relógio. A atendente diz que não tem problema e pergunta se está em nome de Juarez mesmo. Ele responde que sim, no nome de Juarez Silveira e “quem levou aí foi um diretor da Rede Manchete, que era da Globo e tá na Manchete!” Juarez diz que deixou há uns quarenta ou cinqüenta dias. A atendente, de nome Bruna, acha a ordem de serviço do relógio dizendo que “Tá aqui!” Juarez passa o telefone de Paulo Cezar para passarem o endereço para ele e já diz para vender um relógio para ele, que ele gosta de relógio.”

JUAREZ? QUE JUAREZ?

O ato mais surpreendente e elucidativo da relação igualmente próxima entre a prefeitura municipal e o shopping Iguatemi e a Habitasul (empreendedor do Jurerê Internacional), é a viagem de uma comitiva de notáveis a Porto Alegre, para pedir, a um desembargador, a suspensão do embargo das obras.

No final de julho de 2006 desembarcam em Porto Alegre o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, o secretário de Turismo, Mário Cavallazzi, o então líder do governo na Câmara, Juarez Silveira e o procurador do município, Jaime de Souza.

No depoimento à Polícia Federal, em 26 de junho de 2007, o prefeito Dário explicou o que foram fazer e, curiosamente, diz que não sabe, ou não lembra, de como é que o Juarez foi aparecer lá!

Transcrevo a íntegra do depoimento, para que vocês não pensem que eu estou inventando coisas (só os destaques, em negrito, são meus):
“QUE sobre a viagem a Porto Alegre em julho de 2006, para ida até o TRF, para tratar sobre a paralisação das obras do SHOPPING SANTA MÔNICA e do sistema viário da região, acredita que a idéia tenha partido do Procurador Geral do Município JAIME DE SOUZA; QUE acredita ter comentado com JAIME sobre sua preocupação quanto às obras do sistema viário, tendo possivelmente recebido ofício da Associação de moradores do bairro Santa Mônica sobre a movimentação de terras e obras paradas; QUE participaram da viagem o declarante, Dr. JAIME, MÁRIO CAVALAZZI e o Vereador JUAREZ SILVEIRA; QUE o declarante se recorda de ter indagado ao Dr. JAIME se não era importante sua ida; QUE com relação à participação de MÁRIO CAVALAZZI, esclarece que foi convidado pelo declarante por entender que havia interesse relacionado ao turismo e desenvolvimento econômico, e, ainda, porque CAVALAZZI geralmente acompanha o declarante em suas viagens por ser muito experiente; QUE quanto a JUAREZ SILVEIRA, não se recorda de ter convidado o mesmo para a viagem, não sabendo bem de que forma ele passou a integrar o grupo que viajou para Porto Alegre; QUE a viagem do declarante, Dr. JAIME e MÁRIO CAVALAZZI foi custeada pela Prefeitura, que arcou com passagens e diária, por se tratar de viagem oficial; QUE não sabe informar quem custeou a viagem de JUAREZ SILVEIRA, mas certamente não foi a Prefeitura; QUE o objetivo da viagem foi conversar com o Desembargador LIPPMANN, relator do processo junto ao TRF da 4ª Região, tendo o declarante se manifestado unicamente quanto à situação do sistema viário; QUE o declarante e Dr. JAIME também falaram com outro Desembargador, um catarinense, isto por sugestão do Desembargador LIPPMANN; QUE ao que tem conhecimento, não houve contato anterior à viagem com advogados do SHOPPING SANTA MÔNICA ou com o empreendedor PAULO CÉZAR MACIEL; QUE a comitiva chegou a Porto Alegre próximo ao meio-dia, tendo um dos integrantes, não se recordando quem, sugerido que fossem à empresa HABITASUL; QUE acredita que tenham ido de táxi, acreditando que JUAREZ SILVEIRA soubesse o endereço da HABITASUL; QUE Dr. JAIME DE SOUZA entendeu interessante fazer um contato com os advogados da HABITASUL para se informar se os Desembargadores costumavam receber partes ou advogados; QUE não houve o prévio agendamento com o Desembargador; QUE após a interferência do advogado, o declarante se manifesta no sentido de que Dr. JAIME agendou a visita; QUE sendo indagado sobre o motivo pelo qual seria necessário então o contato com os advogados da HABITASUL, respondeu que “houve esse encontro”; QUE não se recorda de ter havido carro da HABITASUL à disposição dos integrantes da comitiva quando da chegada ao aeroporto em Porto Alegre; QUE o declarante não fez nenhum contato com PAULO CÉZAR MACIEL quando a comitiva estava em Porto Alegre, não sabendo se outro integrante o fez; QUE gostaria de registrar que o Desembargador foi simpático, mas não atendeu ao pleito da comitiva.”
Se eu fosse um sujeito intrigante, também transcreveria o depoimento do Juarez, onde ele diz que não esteve na Habitasul com a comitiva: foi lá sozinho, porque sempre que vai a Porto Alegre visita o Dr. Druck. Mas deixa quieto, que, para bom entendedor, já tem palavras sobrando.

Friday, November 02, 2007

Como era verde a minha moeda ... (2)

Coluna Cesar Valente ; 2/11/2007

C
ontinuamos nossa aventura naquela simpática Ilha no Sul do mundo, também conhecida como Ilha da Fantasia. Ali viviam (vivem?) seres mágicos, que faziam com naturalidade coisas que a maioria dos mortais jamais conseguiria. Desobedecer sem remorso às leis que deveriam proteger as belezas da Ilha, por exemplo.

Até que um dia, preocupadas com o azinhavre que estava esverdeando as moedas da Ilha, as fadinhas Pof, Mip e Juf prepararam uma poção mágica que lhes permitiu ver e ouvir o que aqueles seres estranhos estavam fazendo e, principalmente, como faziam.

O pergaminho onde redigiram o relatório do que viram e ouviram, secretíssimo, está guardado a sete chaves embaixo da velha figueira da praça. Mas o DIARINHO, que não é fraco e que também faz das suas, conseguiu receber, num passe de mágica, o ectoplasma do pergaminho. E tudo o que vocês leram ontem e lerão nesta coluna, foi retirado de lá. Shazam!

Ontem contei a história do Monnaie, político e mágico. Mas, é claro, as mágicas dele só são possíveis porque, do outro lado da linha, está um tipo diferente de criatura, um empresário-mágico, que fornece o alimento, a condução e o estímulo para que Monnaie e todos da sua estirpe possam fazer o que fazem.

Sem um, o outro se atrapalha e pode até ficar sem ação. Embora estudos feitos há séculos, naquela mesma academia onde o Harry Potter estuda, tenham demonstrado que essas raças de mágicos, agrupados pelo nome científico de Corruptae corruptalis, são imortais. Podem até hibernar por um tempo nas cavernas, com ou sem grades, mas não morrem.

UMA PEDRINHA NO CAMINHO
A fadinha Pof, com sua visão privilegiada, descobriu que um desses seres, que chamaremos aqui de Dr. Presto Cuore, moveu literalmente céus e terras para ocupar, com o campinho de cricket do seu castelinho, uma área que as leis e decretos reais da Ilha da Magia disseram que deveria ser preservada, para que a Ilha não perdesse sua fantasia.

Claro, se o grande atrativo da região é a sua natureza exuberante e suas paisagens à beira-mar, permitir sua destruição é matar a galinha dos ovos de ouro. Este deveria ser um conceito que os empresários-mágicos, que lidam com moedas e moedinhas, entendessem com facilidade. Mas não é o que acontece.

Pois o Dr. Presto Cuore queria ocupar justamente uma dessas áreas que deveriam ficar intocadas, ali no bairro de Tangolá. E, no meio do caminho, tinha uma pedra. Uma linda pedra cuidadosamente esculpida pela bruxa Gaia, que levou nisso uns bons mil séculos.

A proposta era de explodir a pedra, que atrapalhava os planos de instalar o campinho de cricket e algumas outras benfeitorias do castelo.

Ao longo de 24 páginas, o pergaminho escrito pela fadinha Pof conta as idas e vindas, nas entranhas da edilidade, desenhando um complexo e feioso jogo de (más) influências.

Uma “naba”, como disse um dos duendes, em seu linguajar estranho: o projeto era totalmente, integralmente, profundamente e irremediavelmente proibido por tudo quanto era regulamento. Mas, porque Dr. Presto Cuore era amigo, irmão, “gente nossa”, todos se esforçaram ao máximo para fabricar uma permissão para explodir a pedrinha.

A altura tantas, a fadinha Pof ouviu, na sua bola de cristal, a seguinte conversa, cheia de códigos:
“Little John: (...) o problema é o seguinte, ali é uma APP. APP, tu não pode fazer absolutamente nada. Eu posso até liberar, mas o IBAMA cancela. Vai ser tipo aquele do irmão do intendente, que nós liberamos aqui na...

Lompa: Tá, mas libera na tua parte e deixa ele, deixa ele se entender com o IBAMA, pô. Me ajuda aí, querido.”
Passada a novela da casinha, o mesmo Dr. Presto Cuore embarca em outra missão, não menos complicada, que vai exigir igual dedicação de todos os envolvidos: construir um sanatório em área de mangue. Parece que ele tem uma certa ojeriza por empreendimento fáceis, em locais permitidos.

VAI CINQUINHO AÍ?
O Monnaie, cuja história contei ontem, era amigo, mas amigo de verdade, praticamente irmão, de gente muito generosa. Empresários-mágicos, que sabiam como abrir portas, gavetas e modificar planos diretores, usando apenas a força de suas palavras cabalísticas e o poder das moedas verdes.

Os duendes públicos/políticos sabiam que, se precisassem, para a festinha no seu condomínio, sortear de brinde estadias no hotel Grandão e no hotel Azulzinho, poderiam contar com os empresários que, além de donos dos hotéis, tinham outros empreendimentos imobiliários, todos dependentes de éditos, proclamas e permissões.

Monnaie mesmo, vivia se queixando que estava “duro” (expressão celta que significa “me dá um dinheiro aí”). E não raro, seus interlocutores/empresários, sugeriam aliviar suas dores, com palavras mágicas de efeito balsâmico: “passa aqui que eu resolvo teu caso”.

E ninguém tem qualquer preconceito quanto a valores. Tanto pode ser um carro, um apartamento, um terreno, milhares de reais, ou coisa pouca, como se lê em outro trecho do pergaminho da fadinha Pof:
“Mr. Padamama recorda agora que, em uma oportunidade em que Monnaie esteve na República Oriental, acabou por mandar depositar uma quantia próxima a R$ 5.000,00 em favor dele e a título de empréstimo, não sabendo dizer se Monnaie restituiu tais valores, uma vez que tal dívida ficou a cargo de seu funcionário, responsável pela parte financeira, Bellini;”
CICERONE DE LUXO
É fundamental, para o bom andamento do metabolismo de todos os seres da família Corruptae corruptalis, que as duas faces da mesma moeda estejam em contato. Por isto, é interessante ler o que consta do pergaminho sobre essa arte milenar de ciceronear:
“Pode-se constatar que Monnaie serviu ao intendente como uma espécie de ‘cicerone’, ao ter aceitado convite para ser líder do governo junto à comuna da Ilha. Monnaie, ao que se pôde depreender, apresentou o intendente ao empresariado da Ilha da Fantasia, tendo em vista sua antigüidade na comuna.”
Estes serviços, como parece lógico, não são gratuitos. A arte de ciceronear um intendente no interior das mágicas florestas empresariais é valorizada tanto de um lado, quanto de outro. Como a fadinha Pof registra:
“Monnaie, em arquivo bruxólico apreendido no escritório da Moranorte em Pequena Boca D’Água Global, é listado como recebedor de benefícios financeiros. Consta na planilha denominada “PAGAMENTOS EFETUADOS NO PERÍODO 01/08/2004 –18/07/2005 – MEI” o pagamento de R$ 40.000,00 para Monnaie.”
Dona de um hotel no aprazível vilarejo de Relvado, nos Alpes Andinos, a empresa-mágica, dona do Pequena Boca D’Água Global, abre suas portas generosamente para Monnaie e seus convidados, sempre que ele precisa. Naturalmente, não pede nada em troca. Apenas mantém o relacionamento, entre os dois lados da mesma moeda, devidamente azeitados.

Nós todos, que penamos para conseguir pagar as férias, ficamos com muita inveja de quem pode, por pura mágica, conseguir, sem qualquer desembolso, o que pedem estes cabogramas interceptados pelas fadinhas:
“Enviada em: 30 de agosto de 2006 11:08
Para: encarregada@pbdg.com.br
Cc: ‘Hehe (E-mail)’
Assunto: RES: reservas Monnaie
E, liga para a Cy e confirme. Tens o fone.
O faturamento é corporativa para Moranorte Pequena Boca D’Água.
tks Leonardo
-----Mensagem original-----
Enviada em: 30 de agosto de 2006 11:02
Para: encarregada@pbdg.com.br
Assunto: RES: reservas Monnaie
Prezada , Confirmo solicitação:
Período: 07 á 10/09/06
03 Luxo Casal + 01 Luxo Single
Período : 02 á 10/09/06
02 Suíte Royal
Aguardo Ok. Recebimento.
Atenciosamente,
Lara - Central de Reservas
Hotel Rock Mountain & Resort”
E o pior é que o que vimos, ontem e hoje, representa apenas uma mínima parte, da enorme área exposta do iceberg. Se levarmos em conta que, além disso, tem uma área ainda maior submersa...

Thursday, November 01, 2007

Como era verde a minha moeda ...

Coluna Cesar Valente ; 1/11/2007

E
ra uma vez uma Ilha no Sul do mundo, também conhecida como Ilha da Fantasia. Ali viviam seres mágicos, que faziam com naturalidade coisas que a maioria dos mortais jamais conseguiria. Multiplicar dinheiro e bens sem ter que trabalhar muito, por exemplo.

Até que um dia, preocupada com o azinhavre que estava esverdeando as moedas da Ilha, a fada-madrinha Pof, ajudada pela outras fadas do bosque, a Mip e a Juf, prepararam uma poção mágica que lhes permitiu ver e ouvir o que aqueles seres estranhos estavam fazendo e, principalmente, como faziam.

O pergaminho onde redigiram o relatório do que viram e ouviram, secretíssimo, está guardado a sete chaves embaixo da velha figueira da praça. Mas o DIARINHO, que não é fraco e que também faz das suas, conseguiu receber, num passe de mágica, o ectoplasma do pergaminho. E tudo o que vocês lerão nesta coluna, e na de amanhã, foi retirado de lá. Shazam!

QUANTA COISA!

Pra não cansar os leitores, hoje vou contar a história de apenas um dos seres mágicos. Vamos chamá-lo de Monnaie, para evitar constrangimentos. E nos limitaremos à relação de bens que a fada Pof descobriu que Monnaie acumulou nos últimos tempos. Sempre lembrando que o nosso amiguinho era um representante eleito da comuna da Ilha e que seus ganhos anuais tributáveis (conforme declarou ao leãozinho da montanha), somaram cerca de R$ 168 mil, em 2006.

A fadinha Pof, com sua visão privilegiada, também descobriu que, nos bancos de pedra, Monnaie teve uma movimentação de cerca de R$ 1,2 milhão no mesmo período. Mesmo levando-se em conta que o expedito Monnaie ganhou uma bolada (pouco mais de R$ 100 mil) do Plano de Demissão Incentivada do banco dos duendes onde ele trabalhava, as contas custam a fechar.

A gente, que mora aqui na planície, também gostaria de poder girar, nas contas bancárias, quase dez vezes mais do que nosso minguado salário. Mas é que eles são mágicos e a gente não é.

QUANTA CASINHA!

O Monnaie, além de ser mágico, tem muita, mas muita sorte mesmo. Vejam só: era amigo, mas amigo de verdade, praticamente irmão, de gente muito generosa. Que fazia condições especiais de compra, venda e troca de apartamentos, carros e barcos. Talvez por isso, Monnaie tenha conseguido reunir um patrimoniozinho básico.

Apartamento 1: no sétimo andar do edifício Praça do Século, comprado em 2001 por R$ 140 mil e mantido no nome da construtora (sem transferir para Monnaie). A construtora, por pura coincidência, é do mesmo dono de uma revenda de veículos e de um centro de compras.

Apartamento 2: no 13º andar do mesmo edifício, um pouco maior, com vista melhor, trocado sete anos depois, troca por troca (na verdade o apto. 1 estava mobiliado e o 2, não). Grande negócio. Mágico. Em abril de 2007, Monnaie tentou trocar este apartamento por outro, no bairro de Good Christ Falls. Mas a mágica não deu certo.

Apartamento 3: em meados de 2006 o Monnaie mudou-se para um apartamento no edifício Morena Coast. Por artes mágicas, foi síndico do edifício antes de morar lá. Mas mesmo tendo sido síndico, afirma que não era proprietário (“era alugado”). Também por pura coincidência, o construtor do prédio estava ligado a negócios que tiveram boa tramitação na edilidade comunal. Em maio de 2007, Monnaie tentou vender este apartamento (que dizia não ser dele), o que obrigou a fadinha Pof a pedir à fada Juf que colocasse areia nos planos do moço.

A fada ainda conta sobre dois outros apartamentos, usados por parentes do Monnaie, igualmente enrolados quanto à sua origem. Mas são mágicas comuns, não vale a pena perder tempo com eles.

QUANTO CARRINHO!

O Monnaie, como a maioria dos seres mágicos da Ilha da Fantasia, distribui presentes para toda a família. Assim, é difícil saber o que é de um e o que é de outro. Como disse a fadinha Pof, “ui, tem aqui uma enorme confusão patrimonial”. E seus poderes mágicos ficam claros quando ele compra carrinhos com grande fé, usa-os e depois os revende por valor superior ao adquirido.

A gente, que sempre toma prejuízo quando tenta trocar o carrinho, só tem mesmo que admirar tais poderes.

Mágica 1: no dia 30 de julho de 2004, Monnaie comprou, numa concessionário de veículos de fé, uma lancha por R$ 46 mil e um Astra sedan por R$ 49 mil. Mágica das mágicas, no mesmo dia revendeu o Astra, por R$ 45 mil, para a mesma concessionária. A fadinha Pof arrepiou os cabelos.

Mágica 2: e aí, ele comprou um Ford Ecosport, em novembro de 2004, da tal revenda de fé, por R$ 55 mil e vendeu em março de 2005 pelo mesmo valor, para a mesma empresa boazinha.

Mas chega de falar em bons negócios, vamos apenas apreciar a frota do Monnaie, distribuída nesta coluna, ilustrada com fotinhas meramente ilustrativas. São os modelinhos que, no pergaminho das fadinhas, está comprovado que o Monnaie possuía no momento em que o encanto se quebrou.
Update da madrugada – Esqueci de falar num caminhãozinho que o Monnaie também tinha (tem?) e não mostrei fotinhas de vários outros carrinhos citados no relatório, anteriores a esses aí em cima ou em “test drive”. Mas acho que já deu pra ter uma idéia não só dos poderes mágicos, mas também da sorte do nosso amiguinho, né?